Nollywood: o cinema da Nigéria que criou a sua própria
identidade
por Por Dentro da África - sábado, março 16, 2013 http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/nollywood-o-cinema-da-africa-que-surpreendeu-o-mundo
Conheça a indústria cinematográfica nigeriana que vem influenciando outros países no continente
Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio - Quando uma crise econômica atingiu o país na década de
80 prejudicando a indústria audiovisual, os nigerianos não se abateram. Eles
foram em busca de um novo formato de produção e, em 20 anos, se transformaram
na segunda maior indústria cinematográfica em produção do mundo, levando ao
mercado interno e externo cerca de 200 filmes por mês. De todas as
particularidades de Nollywood, que é hoje um exemplo para todo o continente
africano e para o mundo, a democracia ao acesso é o seu pilar central.
- É um modelo democrático onde é possível
produzir. É barato de operar, aproveita as condições econômicas da Nigéria e
usa como matéria-prima uma população enorme, cheia de ótimas histórias para
contar – diz, em entrevista ao Por
dentro da África, Jonathan Haynes, professor da Universidade de Long Island
(Nova Iorque), que há décadas se debruça sobre os estudos do cinema nigeriano.
A proposta de Nolywood, nome que nasceu em 2002, não se
encaixa no perfil comercial de Hollywood( indústria
dos Estados Unidos). Ela é autêntica e olha única e exclusivamente para a
África e para a Nigéria, uma fonte vasta de energia e de curiosidade com mais
de 250 línguas e dialetos. Por conta disso, Nollywood não produz apenas em inglês,
mas em línguas locais como yoruba, igbo e hausa.
Em um país
onde a maioria das famílias tem mais aparelhos de DVDs do que refrigeradores, e
onde ficar em casa é uma opção mais segura e barata do que sair às ruas para ir
ao cinema (cerca de 70% da população vivem com menos de US$2 dólares por dia e
não podem pagar um ingresso de cerca de US$10 dólares), Nollywood cresceu,
criou raízes e uma regra: levar os filmes para os mais de 170 milhões de
habitantes!
Nolywood surgiu contrapondo a necessidade de treinamento
técnico e domínio de equipamentos caros, usados na indústria cinematográfica
mundial. O objetivo que regia os cineastas era contar histórias. E foi esse
desprendimento técnico que transformou esse modelo em um sucesso, usado como
exemplo em todo o continente e em regiões do Caribe.
-
Nolywood tem um longo caminho. O país precisa criar
laboratórios de processamento, e a técnica precisa melhorar, mas já há muitos
trabalhadores aprimorando luz, áudio, edição. Conforme o retorno financeiro
aumenta, maiores são as possibilidades de evoluir tecnicamente – conta Haynes
sobre o mercado que emprega, pelo menos, 200 mil habitantes e movimenta US$250
milhões de dólares por ano ( o terceiro maior do mundo atrás de Hollywood e
Bollywood - cinema indiano ).
Mahmood
Ali-Balogun, um dos diretores mais renomados
do cinema nigeriano, fala com orgulho da atuação de seus conterrâneos que não
segmentam o processo de produção dos filmes. Segundo ele, desta forma, eles não
precisam destinar recursos a tantos terceiros.
-
As pessoas que compõem a equipe trabalham em várias áreas.
Todos precisam ter uma noção do todo porque essa é a nossa fórmula de sucesso.
Nós filmamos em 10 dias, em um mês. Quanto mais rápido você fizer, mais retorno
terá – disse o diretor de "Tango with me" – o longa-metragem mais
lucrativo do mercado nigeriano em 2011 que foi exibido em Londres e que, nas
salas de cinema nigerianas, superou os 100
mil espectadores.
A revolução na distribuição
O start para Nollywood foi seguinte à
crise econômica que atingiu em cheio os cinemas nigerianos. Mahmood lembra que
as salas começaram a fechar, e muitas se tornaram igrejas e outros
estabelecimentos. Brevemente, os nigerianos encontraram uma saída que abrangia
a produção para a TV e para o vídeo. A demanda para os cinemas estava abalada,
mas não a demanda para a TV e para o vídeocassete, na época. Living in Bondage (lançado
em 1992) é considerado o primeiro blockbuster
de Nolywood exibido em vídeo e estrela do Prêmio da Academia Africana de
Cinema. A obra dirigida por Chris Obi Rapu é um misto de religiosidade e
crenças que ajudou a construir a
estética de Nollywood.
Desde então, milhares de filmes
foram lançados. Em 2009 , a Unesco descreveu Nollywood como a segunda maior
indústria (de produção) do mundo e a segunda atividade que mais emprega
nigerianos.
No país onde o ingresso do cinema é caro demais para a
população, o mercado de sucesso é o DVD. Em todo o território, há apenas 12
cinemas multiplex com quatro salas de exibição. De forma independente, os
próprios produtores faziam seus filmes chegarem ao público da forma mais
simples possível: pelas ruas.
Ainda hoje, a preços acessíveis (cerca de US$2 dólares), os
filmes são vendidos nas ruas e em locadoras.
Mesmo com o custo baixo, havia uma estratégia para combater a
pirataria. Zeb Ejiro, diretor de Domitilla
( filme lançado em 1996, grande sucesso de Nolywood), conta que, no início,
as cópias eram assinadas manualmente e depois embaladas. O trabalho árduo que
parecia interminável (dependendo do número de cópias) não era ineficaz como
parece para um ouvinte.
Para
Jonathan, o estudioso que passa dias esmiuçando a indústria dos nigerianos, há
muito o que aprender sobre Nollywood, onde filmes que custam aproximadamente
US$15 mil dólares são produzidos em 10 dias e viram grandes hits.
- É muito difícil fazer filme sem
eletricidade... Em alguns lugares, onde há ausência ou quedas de luz, o
processo é prejudicado. Mesmo com tantos desafios, eles estão expondo a imagem
da África que é moderna e tradicional. Certamente, é um exemplo de
autenticidade.