A luta
pela unidade da Nigéria
A Nigéria
é um dos países mais populosos e mais poderosos de África, mas é também
confrontado com graves conflitos étnicos e religiosos. Algumas iniciativas
promovem a paz em Kaduna.
Apoiantes
da independência da região de Biafra
Entre as maiores étnias da
Nigéria estão os Yoruba, os Haúça e os Igbo, que vivem na província de Biafra,
no sudeste deste enorme país.
E é no Biafra que surgiu um novo
movimento separatista denominado IPOB, sigla para "Povos Indígenas do
Biafra", um movimento que pretende dar voz aos Igbos, maioritáriamente
cristãos, que se sentem vítimas de discriminação, tanto no proprio Biafra, como
tambem - e sobretudo - em regiões onde constituem minoria, como a região de
Kaduna, de maioria muçulmana, no norte do país.
Já em 1967, a região de Biafra
declarara unilateralmente a independência, o que provocara uma sangrenta guerra
civil que, até 1970, causou cerca de 2,5 milhões de mortos e terminou com a
reintegração - à força - no Estado nigeriano.
A luta pela unidade da Nigéria
Mas o conflito nunca foi
resolvido completamente e, nos últimos anos, sobretudo nos últimos meses,
parecem ter-se intensificado as reivindicações pela autonomia do Biafra.
A tensão aumenta também no norte
do país, nomeadamente no estado de Kaduna entre os Igbos, maioritariamente
cristãos, e a maioria muçulmana.
Em junho, o conflito em Kaduna
agudizou-se com ameaças de grupos islâmicos, lançadas contra as minorias
cristãs que foram mesmo intimadas a abandonar a região até o dia 1 de outubro,
que assinala o aniversário da independência da Nigéria.
"Juntos venceremos"
Mas nem todos os muçulmanos
apoiam as hostilidades contra os Igbos cristãos.
Maryam
Abubakar, da organização humanitaria Womenhood Foundation of Nigeria, WFN
"Queremos a unidade. Não é
importante se és cristão ou muçulmano ou mesmo animista. Somos todos
nigerianos, independentemente de pertencermos às etnias igbo, haúça ou yoruba.
Juntos venceremos, divididos falharemos", afirma Maryam Abubakar, diretora
da organização humanitaria Womenhood Foundation of Nigeria, WFN, sediada em
Kaduna.
Maryam Abubakar visita escolas
para falar sobre o discurso de ódio, pois não quer que se espalhe em Kaduna um
clima de medo e agitação.
Perante a incerteza que se vive
em Kaduna, Muhammad Ibrahim Gashash, diretor da organização Cristão/Muçulmano
Alternativa ao Conflito decidiu "preparar uma casa para os membros da
comunidade Igbo". "Quem se sentir inseguro pode vir para aqui para se
proteger", acrescentou Muhammad Ibrahim Gashash, que reconhece que, nos
últimos tempos, "muitas pessoas têm falado de medo".
Mas até agora não foi preciso.
Segundo Gashash, a forte presença da sociedade civil e do governo regional de
Kaduna tem garantido a segurança.
Muhammad
Ibrahim Gashash mostra a casa que pode acolher membros da comunidade Igbo
Viver sob ameaça
Contudo, o clima de medo entre os
Igbos, na região de Kaduna, parece não dissipar. As pessoas questionam: até
quando conseguirão as diferentes etnias e religiões viver em conjunto?
Jornalista
Dominic Eze Uzu
O jornalista Dominic Eze Uzu,
cristão e igbo, vive há mais de 40 anos no estado de Kaduna e ultimamente vê-se
confrontado com ameaças dos radicais muçulmanos que querem que ele e a sua
familia abandonem a região. Mas isso, para Dominic, não é opção.
"Todos os meus filhos vivem
aqui. Quero que eles encontrem um trabalho quando estiveram na idade, mas tenho
medo que sejam discriminados. Há muitas injustiças e muita desigualdade. Porque
é que não somos tratados como autóctones, como cidadãos de Kaduna como todos os
outros?", questiona o jornalista.
De fato, a familia de Dominic Eze
Uzu não goza dos mesmos direitos que a população maioritária. Quem quer fazer
carreira na administração pública tem que apresentar uma denominada
"declaração de indigenidade". Certos postos continuam reservados a
pessoas pertencentes às etnias autóctones.
Dominic critica essa prática.
"Estamos ou não preparados para ser uma Nigeria unida?", questiona o
jornalista nigeriano. "Se queremos uma única Nigéria teremos que tratar as
pessoas em conformidade", conclui Dominic Eze Uzu.