Danos da
política ambiental de Trump podem ser irreversíveis
Relatório
aponta que prejuízos ambientais já causados pelo atual governo americano
resultarão em 80 mil mortes adicionais a cada nova década.
Desmantelamento de regulações ambientais já era
promessa de campanha do republicano
Quando o presidente Donald Trump
assumiu o cargo, em janeiro de 2017, imediatamente se empenhou em cumprir sua
promessa eleitoral de desmantelar a legislação ambiental dos Estados Unidos.
As promessas não foram feitas
apenas em seus discursos de campanha, mas também inseridos na plataforma do
Partido Republicano, adotada durante a convenção da legenda, em agosto de 2016.
"O establishment ambiental
se transformou numa elite servindo a interesses próprios, presa à mentalidade
da década de 1970", postulava o documento. "A abordagem deles é
baseada em ciência ruim, tática de medo e regulação centralizada de comando e
controle."
Agora, após 18 meses de Trump na
Casa Branca, especialistas concluíram que as mudanças já efetuadas causarão
danos difíceis de um governo futura reverter, podendo resultar em 80 mil
mortes adicionais por razões de saúde nas próximas duas décadas.
Um ensaio de análise publicado em
junho pelos cientistas David Cutler e Francesca Dominici, da Universidade de
Harvard, examina especificamente os impactos sobre a saúde das alterações nas
políticas da Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana a respeito de
poluentes atmosféricos e produtos químicos tóxicos.
A cifra de 80 mil mortes
extras foi calculada com base nos dados da própria agência. "Esta
preocupante estatística captura apenas uma pequena fração dos danos cumulativos
à saúde pública associados com a gama completa de retrocessos e ações sistêmicas
proposta pela administração Trump", alertam os autores do relatório. A EPA
respondeu, afirmando que o ensaio "não é um artigo científico, é um artigo
político".
Segundo uma análise do jornal The
New York Times, baseado no Environmental Regulation Rollback Tracker da
Escola de Direito de Harvard, que monitora constantemente o programa de
desmantelamento regulatório, o atual governo americano iniciou a anulação de 34
leis ambientais, enquanto 33 outras já foram tiradas de vigor.
Administração Trump suspendeu grande parte das
restrições às indústrias poluidoras
A EPA não nega que esteja
desbaratando a regulamentação ambiental do país. Trump nomeou Scott Pruitt como
chefe da agência justamente para esse fim. Em seus tempos de procurador geral
do estado de Oklahoma, ele era um inimigo ferrenho da EPA, tendo iniciado ações
legais para impedi-la de implementar diversas regulações.
Pruitt, que no passado costumava
negar a existência a existência da mudança climática, acredita que a agência é
um monstro inflado, produzindo normas só por produzir, sufocando a indústria
com burocracia.
Em meados de junho, ele se propôs
cancelar a Regra da Água Limpa, da época do presidente Barack Obama, diluindo-a
de um jeito que, segundo ambientalistas, a tornará completamente inócua. Esse é
apenas o mais recente elemento regulador a ser neutralizado.
Entre as normas mais importantes
em via de anulação está o Plano de Energia Limpa, também da era Obama, que visa
superar a inação do Congresso em relação à mudança climática, classificando as
emissões carbônicas como poluentes e assim conferindo à EPA poderes para
regulá-las.
Caso esse plano seja rescindido,
os EUA não disporão de nenhum instrumento para reduzir as emissões, em linha
com os comprometimentos assumidos sob o Acordo de Paris, do qual Trump anunciou
que seu país se retirará em 2020.
Igualmente significante é a
investida da administração para eliminar os padrões de emissões para
automóveis, igualmente aprovado sob Obama. Caso eliminados, isso poderia
desqualificar as montadoras americanas na corrida de inovação com as firmas da
China e Europa, as quais obedecem a padrões de emissões.
Lukas Ross, ativista de clima e
energia da organização Friends of the Earth US, confirma que os retrocessos na
EPA são parte de um programa de desmantelamento mais amplo do governo.
Scott Pruitt: negador da mudança climática colocado
á frente da agência de proteção ambiental por Trump
"Trump encheu seu gabinete e
as agências governamentais com seus amigos corporativos desqualificados, cujo
impacto devastador sobre nosso meio ambiente não se pode subestimar.
Encarregados como Scott Pruitt na EPA e Ryan Zinke no Departamento do Interior
usam suas posições de poder para entregar nosso governo à indústria de
combustíveis fósseis."
"Eles anularam regulações
que protegem nosso ar e água limpos, e abriram monumentos nacionais americanos
à exploração de gás e minérios" prossegue Ross. "Tais atentados contra
proteções ambientais e de saúde pública terão impacto desastroso sobre gerações
de americanos."
Segundo o ativista, as alterações
mencionadas, relativas ao ar e água, e à entrega de terras públicas para
mineração e extração, são as mais difíceis de se reverter. "Essas mudanças
terão consequências no mundo real que, uma vez feitas, não podem ser desfeitas.
Novos gasodutos e plataformas de extração podem ser eliminados por uma
administração diferente, mas não as toxinas e poluentes em nosso ar, água e solo."
Ainda mais difícil, acrescentam
especialistas, será restaurar o status da EPA anterior à era trumpista. A
agência foi atingida por uma onda de renúncias e demissões desde que Pruitt
assumiu, partindo para eliminar departamentos e programas.
O governo em Washington tem
enviado memorandos intimidatórios, exigindo os nomes de especialistas em
mudança climática consultados por agências federais, investigando a presença de
simpatizantes ambientalistas entre os definidores de políticas, e silenciando
cientistas da EPA.
A agência foi povoada de
funcionários leais a Trump, até no departamento de imprensa. Após o blecaute de
mídia inicial da EPA, consta que o novo pessoal de relações com a imprensa tem
se concentrado em intimidar jornalistas.
Jahan Wilcox, um dos porta-vozes
da EPA, teria dito a uma repórter do periódico The Atlantic, que lhe
pedira um comentário sobre a renúncia de quatro altos funcionários em uma só
semana: "Tenha um bom dia, você é um pedaço de lixo."
O próprio Scott Pruitt está
envolvido num dos mais abrangentes escândalos de corrupção da história da
política americana, acusado de empregar recursos da agência para ganho pessoal.
Apesar disso, o presidente republicano se recusa a exigir sua renúncia como
chefe da EPA.
"Trump continua a respaldar
como chefe da instituição um homem fundamentalmente corrupto", critica o
ativista Lukas Ross. "Pruitt desperdiçou milhões de dólares dos
contribuintes com seu estilo de vida extravagante, em vez de proteger nosso
meio ambiente."
Observadores duvidam que o
advogado de profissão consiga permanecer na agência por muito mais tempo,
devido à dimensão das acusações que enfrenta. Contudo Ross adverte que, mesmo
que ele seja substituído por alguém que reverta a agenda de desregulação, o
dano já está feito.
Até mesmo um governo federal
futuro terá dificuldade de restaurar, em tempo hábil, a dilapidada EPA a sua
antiga solidez e níveis de pessoal. "Uma nova administração precisaria de
uma agenda realmente centrada no meio ambiente, para reverter boa parte do dano
causado por Pruitt", conclui Lukas Ross.
Nenhum comentário:
Postar um comentário