sábado, 30 de abril de 2016

Golpistas, um golpe na democracia brasileira.



O artigo que enfureceu a família Marinho e resultou na humilhação mundial das Organizações Globo
Data: 25/04/2016
Artigo no jornal britânico The Guardian provocou forte reação das Organizações Globo. Por meio de seu vice-presidente, João Roberto Marinho, o grupo Globo insistiu para que tivesse um direito de resposta ao texto. No entanto conseguiram apenas publicar uma carta em inglês na área de comentários da matéria 
A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment
por David Miranda, no O Cafezinho


A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.

Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.
 Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.

A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.

Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.

É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o Senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.

Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”

Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.

Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.

O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.

 Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido à grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando virem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.

O mais instável de tudo é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.

Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.”
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Leia a carta dos Marinho publicada na área de comentários do The Guardian:


domingo, 17 de abril de 2016

Condições iguais a pessoas diferentes!



Quando o discurso da meritocracia ignora a desigualdade

Publicado há 2 dias - em 15 de abril de 2016 » Atualizado às 11:10
Categoria » Educação · Em Pauta

 
O esforço é algo extremamente importante no tipo de sociedade em que vivemos, e a meritocracia tem se tornado um conceito defendido por muitos. Mas precisamos questionar a ideia de que tudo o que as pessoas conseguem ou têm decorre de tal esforço. É comum veículos de imprensa divulgarem casos de pessoas que conseguiram “subir na vida” devido a um grande empenho pessoal. Esses casos podem nos levar a pensar que, se alguém não consegue um bom emprego ou não passa no vestibular de uma universidade de prestígio, é porque não se esforçou o suficiente. Mas será que isso é verdade?

Por Vanda Mendes Ribeiro Do Brasil Post
Até a Idade Média, o nascimento determinava o lugar social de cada pessoa. Um filho de nobre tinha posições sociais (como cargos na estrutura do Estado ou títulos de nobreza) garantidas pelo simples fato de ter nascido em uma família nobre. O filho de um trabalhador do campo jamais conseguiria tais títulos ou cargos. A ascensão social era algo que nem estava no imaginário das pessoas.

Com o fim desse sistema social, a ascensão da burguesia e o surgimento da democracia moderna, garantiu-se legalmente o direito de qualquer um,independente da posição social de seus familiares, poder obter um status elevado. Uma filha de um trabalhador rural pode, por direito, chegar a ser Presidente da República, juíza ou professora universitária. Desta noção consolidou-se a crença de que, para ascender socialmente, basta que nos esforcemos.

Há, porém, fortes evidências científicas, detectadas por meio de pesquisas, como as do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que permitem questionar esse pensamento tão arraigado entre nós. No tipo de sociedade em que vivemos, qualquer pessoa pode, teoricamente, alcançar qualquer posição social. Mas, na prática, o peso daorigem social ainda é muito mais determinante do que gostaríamos de acreditar.

Para começar, nas sociedades democráticas não há posições vantajosas em número suficiente para todos. Se a totalidade dos indivíduos recorressem à mesma quantidade de esforço pessoal, não haveria como cumprir a máxima do “se esforce e então conseguirá o que deseja”. Portanto, esse pensamento expressa uma profecia que jamais poderia ser cumprida.

Crianças de famílias mais pobres ou de posições sociais menos vantajosas têm menor rendimento nos estudos, reprovam mais e possuem índices de abandono escolar maiores. Isso independe do quanto se esforcem. Devido aos avanços das pesquisas no campo social, já sabemos que até mesmo as expectativas dos jovens com relação às suas profissões futuras são influenciadas pelo nível socioeconômico da família. Ter ou não acesso desde cedo à educação infantil, por exemplo, exerce grande impacto na trajetória escolar das crianças.

O peso das origens do nascimento sobre as posições sociais que os indivíduos alcançam é muito forte. Isso é verdadeiro para todos os países ditos democráticos, e ainda mais determinante naqueles em que o Estado age pouco para coibir o acúmulo de privilégios. No Brasil, por exemplo, se você é de família rica terá mais chances de frequentar a educação infantil, tenderá a ser alfabetizado sem grandes dificuldades, será menos reprovado durante a educação básica, terá uma escola com aulas todos os dias e que acompanhe o ensino e a aprendizagem de cada estudante. Mas o mesmo não ocorre com aqueles alunos que estão em escolas de regiões periféricas.

Sabe-se também que as redes de contatos, o conhecimento acumulado ao longo da vida e a capacidade de falar outras línguas são importantes para se galgar uma posição vantajosa na vida adulta. Mesmo que o filho de um industrial não tenha estudado tanto quanto o filho de uma faxineira, por exemplo, sem dúvida ele terá mais portas abertas para oportunidades interessantes.

A repercussão disso na escola pode ser terrível, e perpetuar as desigualdades. Diante da injustiça de ser tratado como incapaz, alguns especialistas como François Dubet afirmam que, com o tempo, alunos que “fracassam” tendem a tornar-se inertes ao ambiente escolar. Eles podem abandonar mentalmente os estudos, ou tornar-se indisciplinados ou mesmo violentos.

Para manter o senso comum de que o esforço é o que justifica o alcance de posições vantajosas, teríamos que negar todo um corpo de estudos acadêmicos que evidenciam o peso das origens sobre as escolhas e as possibilidades de um indivíduo.

Ao invés de recusar estas evidências, pensadores têm se dedicado a propor estratégias para uma escola mais justa, como a adoção de outros critérios que não o meritocrático na educação básica. Uma dessas propostas, que tem sido muito discutida recentemente, é o princípio de que todas as crianças devem aprender o que o Estado define como necessário nessa etapa da escolaridade. A educação básica seria, desse modo, um momento de acumular conhecimentos, de dotar a todos das mesmas condições de base, de nivelar o que foi muito diferente desde o nascimento, deixando o critério meritocrático para ser utilizado apenas posteriormente, a partir do ensino superior.

É evidente que não podemos abandonar completamente o mérito, pois isso nos levaria de volta a uma sociedade com a determinação total do nascimento, da posição social original dos indivíduos. Devemos garantir que os adultos sejam livres para fazer uso de seus esforços para transitar socialmente, abrindo possibilidades para a mobilidade social de todo e qualquer um. Mas não podemos fazer uso de um discurso de meritocracia que justifica e reproduz as desigualdades, muitas vezes diminuindo aqueles com posições sociais menos valorizadas, fazendo vista grossa às desigualdades estruturais do pais.

É preciso que ampliemos a capacidade de nossas instituições gerarem igualdade de oportunidades. Isso é extremamente necessário na Educação Básica, um momento da vida em que a sociedade determina que todos temos os mesmos direitos educacionais. O período da escolaridade obrigatória não combina com a ideia de que os resultados de aprendizagem e a trajetória escolar devam depender do esforço individual. Deve, sim, depender do esforço institucional, do Estado. Quando todos os jovens, ao deixarem a Educação Básica, tiverem galgado um patamar considerado adequado, aí então será mais justo falar em mérito para tratar do acesso às suas futuras oportunidades.


domingo, 10 de abril de 2016

Vozes a todos



Jornalistas denunciam ameaças à liberdade de imprensa na Turquia


  • 10/04/2016 17h13
  • Istambul (Turquia)
Vladimir Platonow* - Enviado Especial

 
Episódios como a prisão de dezenas de jornalistas e a tomada à força de meios de comunicação por forças policiais têm colocado a Turquia em uma posição incômoda do ponto de vista da democracia e da liberdade de imprensa, denunciam profissionais de mídia e órgãos sindicais turcos. O caso mais recente foi a invasão do maior jornal do país, o Zaman, bem como da agência de notícias ligada ao grupo, a Cihan, por tropas policiais leais ao presidente Recep Tayyip Erdogan, no dia 4 de março deste ano. Ambos seguem sob intervenção estatal e grande parte dos jornalistas foi demitida.

No momento, há 32 jornalistas presos e 1.843 processos abertos pelo governo contra profissionais de imprensa acusados de insultar o presidente, de acordo com a presidenta da Associação de Jornalistas da cidade de Izmir, uma das maiores do país, Misket Dikmen.

“Queremos ajuda internacional para a nossa situação. A imprensa na Turquia, como nunca aconteceu na nossa história, está sob pressão intensa. Os veículos estão sendo controlados pelo governo e muitos jornalistas estão sendo demitidos. Acreditamos que uma sociedade onde a imprensa não é livre não se pode falar em democracia. Isto é uma questão contra os direitos humanos, pois o direito à informação é um deles”, disse Misket, na sede da associação.

Segundo ela, os recentes atentados que atingiram a Turquia, creditados aos grupos terroristas Estado Islâmico e PKK, de origem curda, não podem servir como desculpa para implantar a censura.

“Na verdade, existe uma coisa que é mais perigosa, que é a autocensura. Muitos jornalistas estão presos, alguns há mais de um ano, e os julgamentos nem começaram”, denunciou Misket que, há 15 anos, comanda a associação dos jornalistas.

Chantagem
Para o jornalista Mumtazer Turkone, que perdeu o emprego no jornal Zaman, o governo turco opera um tipo de chantagem com os países europeus. Em troca do abrigo aos refugiados sírios – retidos na Turquia para não saírem em massa para a Europa –, o país conta com o “silêncio” das nações europeias que não denunciam com veemência o atentado à liberdade de imprensa.

“O nosso governo está chantageando a Europa, que está vendendo nossa liberdade em troca dos refugiados. Não temos esperança de que os democratas europeus vão apoiar nossa liberdade de imprensa”, disse Mumtazer, que é formado em ciência política e é professor de direito na Universidade de Fatih, em Istambul.

O jornalista conta que está sendo processado pelo governo turco por causa de um texto publicado em setembro de 2015. O juiz do caso, segundo ele, determinou uma pena de quatro anos de prisão. Turkone destaca que, desde 2014, quando uma lei determinou que os juízes fossem subordinados ao Ministério da Justiça, não há mais independência no Judiciário do país.

Ele diz que não temer o futuro, mesmo com a possibilidade de prisão. “Eu estou furioso e sem esperanças, mas não tenho medo. Já estive preso por dois anos, 30 anos atrás, durante a ditadura militar. A diferença é que os militares ameaçavam com armas. Agora, ameaçam as pessoas com motivos econômicos, pois elas podem ficar sem emprego ou ter que deixar o país”.

Novo jornal
Saiba Mais
Outro jornal que sofreu intervenção estatal foi o Bugün (Hoje) que tinha circulação de 110 mil exemplares por dia até o ano passado. Depois da tomada pela polícia e da adoção de uma linha editorial governista, o jornal passou a vender 4 mil exemplares e foi obrigado a fechar. O grupo também perdeu dois canais de televisão e uma rádio.
Os jornalistas que trabalhavam no Bugün resolveram fundar outro jornal, o Özgür Düsunce (Pensamento Livre), veículo mais modesto, que funciona em um prédio antigo, na periferia de Istambul. Os recursos para a empreitada vieram do bolso do próprio editor-chefe, Mehmet Yilmaz, que investiu suas economias para dar vida ao jornal.

“Aqui não existe um patrão. Chamamos os amigos demitidos para trabalharmos juntos. Aqui, virou uma família. Este jornal é um símbolo da luta por democracia pela sociedade civil. Pela primeira vez na nossa história, um governo tomou conta dos jornais usando a força. Talvez o governo tome conta desta redação também. Se isto acontecer, vou pegar o meu paletó e fundar outro jornal”, disse Yilmaz.

Segundo ele, o governo pressiona empresas a não anunciarem no Özgür e também dificulta a circulação do jornal, fazendo pressões sobre as distribuidoras que levam os jornais aos assinantes e às bancas.

Muitos desses veículos, especialmente o grupo Zaman, eram ligados ao Movimento Hizmet, inspirado no líder religioso e intelectual turco Fethullah Gülen, auto-exilado nos Estados Unidos, após divergência política com o governo turco. No país, o Hizmet é considerado o maior movimento organizado da sociedade civil.

Posição oficial
O governo da Turquia, por meio da Embaixada no Brasil, informou que o país é democrático e governado pela lei, sendo garantida a independência do Judiciário pela Constituição. Disse também que a proteção e a promoção dos direitos humanos está entre os objetivos primordiais do país.

“A este respeito, liberdade de expressão e de imprensa constituem um importante pilar das políticas de direitos humanos da Turquia. É uma liberdade fundamental, garantida pela Constituição”, sustentou a embaixada, por e-mail.

A representação turca defendeu também que o país tem uma comunidade jornalística vibrante, ativa e plural. Sustentou que nos últimos anos houve uma série de reformas judiciais, alinhadas com as tendências internacionais e princípios para a proteção e promoção da liberdade de expressão e de imprensa.

“Na implementação dessas reformas, também atentamos para garantir os direitos pessoais e o direito à privacidade, tentando preservar o equilíbrio entre liberdade de expressão e de imprensa, por um lado, com os direitos individuais e o direito pela privacidade, por outro.”

Com relação à intervenção do governo sobre o grupo editorial Zaman, a embaixada destacou que a nomeação de interventores é resultado de decisões jurídicas, em processos realizados por um Judiciário independente. “Os interventores foram designados por decisão do Escritório de Juízes Criminais de Istambul. A Corte baseou sua decisão em investigações em curso ligadas ao terrorismo.”

Quanto aos jornalistas presos no país, a embaixada afirmou que, “ao contrário do que tem sido dito, essas pessoas foram acusados por sérios crimes (como serem membros de organização ilegal ou terrorista), que não estão relacionados com o trabalho de jornalista”.
* O repórter viajou com um grupo de jornalistas brasileiros a convite do Centro Cultural Brasil-Turquia
Edição: Lílian Beraldo
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