Entrevista
exclusiva com Pierre Cardin: 'amo e respeito a Rússia profundamente'
A casa de moda francesa Pierre
Cardin planeja começar a fabricação de roupas na Rússia. A empresa está em fase
de negociação com as fábricas russas.
As lojas Pierre Cardin na Rússia
atualmente vendem itens de fabricantes licenciados da Itália, Alemanha e EUA. A
intenção de Cardin é licenciar fábricas russas para produzir suas roupas
localmente.
A agência Sputnik conversou com o
ícone mundial do design de moda, Pier Cardin, que em entrevista exclusiva
revelou os motivos para a localização de sua produção na Rússia. Cardin
explicou que os seus laços com o país vão muito além da moda.
Sputnik: Por que você decidiu investir
em indústria de moda na Rússia?
Pierre Cardin:
Considerando que a Rússia é o maior país no mundo, isso é normal. Além disso,
como sou muito famoso lá, eu pensei que, do ponto de vista comercial, se eu
abrir produção no país, isso me permitirá criar laços importantes. Esse foi o
motivo.
S: Você trabalhou com a Rússia
durante 40 anos. O que a Rússia inspira em você?
PC:
Respeito. Eu respeito muito o seu país. É um país que possui um grande valor no
plano cultural, musical. E, ao mesmo tempo, é um país que vale a pena conhecer,
é um país pouco conhecido ainda. E eu queria ter construído esses laços há
muito tempo, tentar entrar no país que eu amo há muito tempo. Eu gostaria de
trabalhar com a Rússia do ponto de vista da moda e do ponto de vista dos negócios.
Do ponto de vista de tudo aquilo que eu também represento para o teatro, para a
arte e também para a diplomacia. Eu sou embaixador da UNESCO, membro da
Academia de Mozart, eu sou um grande diplomata.
S: Você já levou a peça Juno e
Avos (opera rock russa — redação) para França. Ou seja, você é, de certa
forma, uma pessoa do mundo da cultura que representa a cultura russa. Você é,
de certa forma, alguém que conecta as duas culturas.
PC: Sim, eu
tento promover a Rússia. Todos conhecem Tchekov, os grandes escritores, os
músicos que nós influenciaram na França, principalmente no século passado. Mas
eu sou representante do mundo da moda, dessa forma eu quero, através da minha
atividade promover a moda internacional. Está concentrada em Paris, mas não é de
Paris, é internacional. Aqui estão os russos, os japoneses, os italianos, os
franceses. A moda é o artista. Um artista nem sempre representa um país, apesar
de pertencer a alguma nacionalidade. E a minha atividade na Rússia permitirá
aos russos terem acesso ao meu talento e, talvez, alterar a mentalidade, a
visão de mundo.
S: Você chegou a reparar em
alguma particularidade cultural russa?
PC: Por
enquanto eu conheço Slava Zaitsev, que é um grande designer de moda. Segundo eu
entendo há uma tendência de não representar o seu país. Eu tento representar a
moda internacional na França, antes de tudo. Faço isso através da minha
profissão e acho que tive sucesso nisso.
S: Você poderia falar algo sobre
teatro na Rússia?
PC: Estou
tentando montar o Retrato de Dorian Gray em Moscou. Vamos ter apresentações em
Moscou e em outras cidades, bem como no Cazaquistão. É uma produção minha, pois
sou uma pessoa do teatro há quase 50 anos. Eu produzi um grande número de
peças, inclusive russas, mas principalmente peças de Pier Cardin.
S: Você já fez figurinos para
filmes. Você ainda tem vontade de criar figurinos para cinema?
PC: Eu fiz
muitos figurinos em parceria com diretores de cinema. Eu trabalhei muito com
Visconti e com outros diretores. Eu não quero mais, entretanto, fazer figurinos
para teatro ou cinema. Isso exige muito tempo e muita jovialidade. No entanto,
eu criei figurinos para Maya Plisetskaya e peças no Bolshoi. Eu criei figurinos
para peças de Tchekov, para peças e obras de grandes escritores. Eu trabalhei muito,
inclusive no Bolshoi, para a peça Ana Karenina, com Maya Plisetskaya.
S: Você era amigo de Maya
Plisetskaya?
PC: Eu era
amigo de todas as estrelas russas. Eu tive oportunidade de conhecer muitos
talentos quando produzi as semanas de retrospectiva de cinema russo no
Espace Cardin. Isso foi fantástico! Os atores são excelentes!
S: Na sua opinião, em função das
tensões políticas atuais, as relações culturais entre a Rússia e a França
também estão deixando a desejar?
PC: Eu
também sou um diplomara e eu faço de tudo para que as relações com a
Rússia sejam boas o máximo possível. Eu produzi Juno e Avos, que foi capaz de
formar laços únicos entre os países. Eu também levei esse espetáculo para os
Estados Unidos, para demonstrar que a arte não possui nada em comum com a
política. A arte tem um objetivo — ser diplomática.
Eu desejo a amizade entre os
nossos dois países. Os franceses gostam muito e respeitam a Rússia. Existe a
cultura, mas também existem pessoas que desejam guerra, infelizmente não dá
para parar essas pessoas. É lamentável. De qualquer modo, eu sou um grande
amigo da Rússia. É um país que eu amo muito e que eu respeito profundamente.
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